– Mas amanhã é quinta, não é? Ainda bem que é quinta!
Quinta ou sexta, tanto faz. O que importa é o calor. A cidade fede quando está quente. Há cheiro de suor. De esgoto. De bafo. De perfume enjoativo. De salões de cabeleireiros sujos. De poeira. De ruas lotadas de papéis com propostas imobiliárias. De álcool. De café passado e pão na chapa queimado. De óleo velho e coxinhas encharcadas. De fezes de cachorro espalhadas pelo chão. No calor, São Paulo coloca todos os seus demônios para fora. Um estacionamento enfrenta seu horário de pico às 18h30: são muitos os carros que saem em busca da mesma avenida. Para os pedestres, a calçada deixa de existir. Nenhum motorista espera. Nenhum funcionário das empresas nos arredores da avenida Pedroso de Morais espera também: os bares e as padarias estão cheios de engravatados e mulheres de salto. Em uma panificadora na esquina da avenida Pedroso de Morais com a rua Teodoro Sampaio, onde um grupo de homens divide uma garrafa gelada, um jovem de aliança prata na mão esquerda aparenta sofrer de cansaço acumulado. Enquanto lava pratos sujos, olha conformado para o ambiente em que está. Deve constatar o mesmo que eu: essas mariposas não vão embora.
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